A BNCC como mecanismo de controle da educação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26843/v14.n3.2021.1119.p700-730

Palavras-chave:

Políticas de currículo. Base Nacional Comum Curricular. Ciclos de política. Representações sociais.

Resumo

Este texto, resultado de pesquisa de Doutorado em Educação, que tratou do processo de implantação da BNCC, tem por objetivo analisar os contextos de sua formulação, em dois enfoques, destacando: 1º o processo de elaboração das recentes políticas educacionais brasileiras; e 2º os discursos sobre a BNCC, que circularam na mídia durante as audiências públicas do CNE. A abordagem teórico-metodológica se fundamenta no campo da sociologia política e da psicologia social. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujos dados foram analisados a partir das dimensões do contexto de produção do texto político, realizando-se uma análise documental dos textos que geraram o PNE, e do contexto de influência, quando se realizou a análise temática de produções orais obtidas em audiências públicas do CNE e de análise reflexiva do conteúdo de artigos jornalísticos. Os resultados demonstraram, de um lado, que os anseios sociais de busca da qualidade educacional foram frustrados, visto ter se concretizado uma visão tecnocrática e de ênfase nos mecanismos de controle na versão homologada do documento; e, de outro, que as fundações empresariais pressionaram o CNE pela aprovação da BNCC por meio de discursos persuasivos, contrariando os alertas da comunidade acadêmica sobre as fragilidades do texto da BNCC. Os dados corroboram para a ideia defendida na tese de que é preciso entender como o conhecimento sobre a política é gerado, para que os efeitos, causados pelo conhecimento produzido por estas mesmas políticas, possam ser compreendidos.

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Biografia do Autor

Rejane Maria Emilio, UNIVERSIDADE CAT? LICA DE SANTOS

Doutora e Mestre em Educação, com especialização Língua e Literatura Portuguesa e graduação em Letras e Pedagogia. Exerceu função docente da educação básica em redes municipais, estaduais e privadas de ensino durante 30 anos e atualmente exerce a função de Supervisora de Ensino. Atuou como Avaliadora Educacional SASE/MEC e como professora universitária no curso regular de Pedagogia e pela PARFOR. Foi membro da Conselho Municipal de Educação de Guarujá, do Fórum Estadual de Educação do Estado de São Paulo e do Fórum Estadual de Formação de Professores do Estado de São Paulo. Coordenou as Conferências Intermunicipais de Educação Baixada Santista-CONAE 2014 e CONEPE/2021; Conferências Municipais de Educação de Guarujá, em 2011; 2013 e 2017 e o Fórum Municipal de Educação de Guarujá, nos períodos de 2011-2012 e 2018-2021. 

Maria de Fátima Barbosa Abdalla, Universidade Católica de Santos

Maria de Fátima Barbosa Abdalla é doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo/FEUSP. Pós-doutora em Psicologia da Educação pela PUC/SP. Professora do Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Católica de Santos. Líder do Grupo de Pesquisa/CNPq ? Instituições de Ensino: políticas e práticas pedagógicas? ?. Membro da diretoria da ANFOPE e pesquisadora associada ao Centro Internacional de Estudos sobre Representações Sociais e Subjetividade em Educação/CIERS-Ed da Fundação Carlos Chagas/FCC ? Cátedra UNESCO de Profissionalização Docente. 

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Publicado

2021-12-16

Edição

Seção

Artigos Científicos